Monday, February 26, 2007

Parte IV


Era início da tarde do dia 31 de dezembro e Sam estava sentada em um banco do lado de fora da casa, olhando a neve, as árvores secas, a paisagem. Sua mente estava pensando em vários momentos daquele ano e seus olhos não estavam se prendendo em nenhum objeto ou nada em específico.

Naquela hora, toda a sua família estava descansando para a virada de ano e ela aproveitou para ficar ali, curtindo a paz do lugar. Achou mais sensato pegar casacos e mantas antes de ir sentar no banco mais afastado e quando lá chegou, se apertou mais. Estava muito frio e seu nariz pedia para voltar para o quentinho da casa, mas sua mente estava tão longe que não o ouvia.

Há um ano, todos que estavam naquela casa moravam na Inglaterra e se viam sempre. Mesmo seu avô que não mudava nunca de idéia sobre morar na Noruega, estava sempre na casa do filho. A família não era tão grande, mas era unida, até Lore era chamada de prima quando aparecia em alguma reunião. Olhou para a casa e imaginou todos lá dentro, agora precisavam sair do país para se ver. Cada um morava em um lugar diferente e longe, não sabiam mais se iriam se ver ou não no dia seguinte.

O pensamento que algo poderia acontecer com as pessoas que mais amava fez Sam se levantar, não queria ter esse tipo de imagem na mente nas últimas horas do ano. Iria caminhar, conhecer o terreno e retirar da natureza sua esperança.

Ao ver o caminho coberto de neve quis pegar sua varinha para limpá-lo, mas se lembrou que ali não poderia fazer nada, ainda era menor de idade. Uma das coisas que gostava na Noruega era poder fazer feitiço a vontade, não ter que ficar restrita à escola.

“Noruega... Agora é diferente, lá eu conheci o Azul...”, Sam sorriu com o pensamento.

Nas últimas férias aconteceu o que, com certeza, era o que Sam iria mais agradecer esse ano. Ela não só conhecera Darien, mas também criara um laço que depois usara para conversar com ele na escola. Ela não era mais a estranha que ele nunca viu que ficava admirando-o a distância, já podia falar ‘Oi’ sem parecer uma maluca.

“Nem tanto, maluca você é... Praticamente o abordou do nada algumas vezes.”

Valera a pena ter feito isso, agora o conhecia e tinha intimidade para dar e receber presente de natal. Estavam mais próximos a ponto de marcarem de estudar, ou ele ir até ela só para contar algo que acontecera. Se ela fosse ao passado e contasse isso para si, não acreditaria.

Sam parou e viu um grande descampado branco, não resistiu e pegou um graveto para desenhar um grande coração. Riu ao se ver fazendo olhinhos, nariz e boca e colocando suas iniciais.

“Coração tem que ser grande para as mafiosas e seus rapazes.”

A Máfia foi a grande surpresa daquele ano, nunca se imaginara fazendo tantas coisas como fizera com aquelas duas garotas tão loucas quanto ela. Mina tinha sido o seu presente daquele ano, a amiga que conhecera e se tornara insubstituível. Lore já era parte de sua vida e tão importante para Sam quanto o ar.

Através das garotas conhecera algumas pessoas do 6º ano que gostaria de, nesse ano, ter um laço tão bom quanto o que tem com Canela e Ovomaltine. Mamma, Consegliori, Meri, Herman... Ao pensar nesse último teve certeza que logo seria seu cunhado.

“Sou uma garota de sorte, parece que atraí somente boas pessoas para perto. Mesmo com tanta gente com medo e suspeitando uns dos outros, eu fui conhecer justamente pessoas amáveis.”

Os olhos acinzentados viram a sua frente um lago congelado que seu avô não comentara ter no terreno. Correu até lá, quem sabe poderia tentar andar no gelo e brincar um pouco. Sam se perguntou se o avô esqueceu ou ela que estava correndo pela casa e não ouviu, poderia estar ali com seus patins.

- Ah, não acredito que vou ter que voltar até a casa para pegar os patins... Era só usar um ‘accio’ e...

- E nós teríamos que explicar isso para o Ministério Francês e Inglês. - Neil chegava, para a felicidade de Sam, com dois pares de patins na mão. - Não te achei na casa e pensei que pudesse gostar de patinar um pouco.

- Ah, você me ama... - Ela o abraçou já pegando seus patins.

- Amo, mas não abuse, viu?

Neil ajudou Sam a se calçar e logo depois colocou o seu também. Não que fossem patinadores profissionais, mas já tinham uma boa experiência. Mal se calçou e ela já estava correndo, sentindo o vento gelado bater em seu rosto.

- Sammy, devagar! Você não sabe qual a parte do gelo é fi... SAMMYYY!! - Neil não pode terminar de falar, viu Sam cair na água onde o gelo se partiu.

A cena durou poucos segundos, para sorte de Samantha. Neil foi rápido com sua varinha, a tirou da água congelante e a aqueceu ali mesmo. Apesar de nada ter realmente acontecido, Sam viu no rosto de seu tio, a preocupação.

- Tio, não aconteceu nada. Só me molhei, congelei e fui salva pelo meu cavaleiro. Sabe que tenho uma boa saúde.

- E isso não é motivo para abusar dela e nem da sorte. Você precisa tomar mais cuidado! - Neil falou sério, enquanto patinava levando Sam para fora do lago, para o banco onde ficaram os casacos.

A morena olhou assustada para ele. Já levara broncas de Neil antes, mas aquela era diferente. Não podia ser somente pelo falo de ter caído no gelo. Ela deixou que ele a cobrisse com os casacos e enquanto ele estava abaixado a sua frente, Sam segurou a mão do seu tio, chamado sua atenção.

- Está tudo bem? - Ela falou baixo, realmente querendo saber o que estava acontecendo.

- Sei que você e seu avô têm suas histórias e seus segredos... Reparei o presente dele e como você está diferente. Agora estou morando em outro país e não tenho direito nenhum de cobrar como pai, mas fico preocupado com o que acontece na sua escola.

O coração de Sam apertou ao ouvir aquilo, realmente não falara nada com o tio sobre sua futura carreira. Ela na verdade ainda não tinha decidido nada, nem tinha feito os NOMs para saber o que fazer. Sem saber o que fazer, ela abraçou seu tio.

- Eu estou bem lá, tenho amigos maravilhosos que fazem os dias passarem mais felizes. Não se preocupe com o presente do vovô, ele é precavido com tudo. - E falou em seu ouvido. - E você é o pai do meu coração.

Neil sentiu um calor dentro dele ao ouvir aquilo. Conhecia Samantha o suficiente para saber que se algo ameaçasse seus amigos, ela iria ajudá-los sem pensar duas vezes. E estando em um país em guerra e em uma escola que é o alvo principal de Voldemort, algo poderia acontecer e ele não estaria lá para protegê-la. Essa era a sua maior preocupação, alguém se aproveitar do bom coração de sua sobrinha e ela não ver isso até ser tarde demais.

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